O que vem à mente quando você pensa em terapia eletroconvulsiva (ECT) ou terapia de ‘eletrochoque’? Talvez imagens dramáticas do filme “Um Vôo Sobre o Ninho do Cuco”, com pacientes gritando e corpos se contorcendo ou médicos sádicos em jalecos brancos usando o procedimento como punição por mau comportamento?
Durante um procedimento de ECT moderno, você pode detectar um ou dos jalecos brancos, mas as semelhanças com o estereótipo antigo basicamente terminam aí. Este artigo falará sobre a utilidade da ECT moderna no tratamento da depressão e talvez acabe com alguns mitos sobre o procedimento. Se você não sofre do tipo mais grave de depressão, pode estar interessado em saber que existem formas mais suaves de estimulação cerebral mais adequadas para sintomas depressivos leves ou moderados.
As últimas seções deste artigo falarão sobre Estimulação Transcraniana por Corrente Contínua (ETCC) e como ela é usada para estimular o cérebro a sair da depressão.
O que é ECT?
Vamos do começo. O que exatamente é ECT? Bem, ECT significa terapia eletroconvulsiva e é uma forma de estimulação cerebral usada para tratar os casos mais graves de depressão ou depressão em pacientes que tentaram outras formas de tratamento sem resultado. A ECT também pode ser usada para tratar outras doenças mentais graves, como transtorno bipolar e sintomas de esquizofrenia.
Durante uma sessão de ECT, uma pequena corrente elétrica é administrada ao cérebro para induzir uma convulsão controlada enquanto o paciente está sob anestesia geral. Embora os pesquisadores não saibam exatamente como a ECT funciona, acredita-se que o tratamento acione a atividade elétrica entre as células cerebrais e mude o equilíbrio químico em áreas do cérebro que desempenham um papel importante na regulação do humor.
Agora, a próxima seção falará sobre o que a ECT NÃO é.
O que a ECT não é – acabando com os mitos
A maior parte do estigma em torno da ECT deriva das primeiras versões do procedimento, em que nenhum anestésico foi usado. Para ter uma visão mais clara do que a ECT é e o que não é, vamos dar uma olhada na diferença entre a ECT antiga e a ECT moderna.
ECT em 1938
Em 1938, o primeiro direcionamento de ECT foi usado e parecia muito diferente dos procedimentos atuais. Em 1938, os médicos executavam uma alta corrente elétrica no cérebro dos pacientes, causando convulsões em todo o corpo. Como nenhum anestésico era utilizado, os pacientes mordiam a língua ou até mesmo quebravam os ossos por causa dos espasmos musculares da convulsão.
Atualizações da ECT
O psiquiatra Dr. Harold A. Sackeim (PhD) descreve a diferença entre a ECT antiga e moderna em seu artigo de 2017.
A ECT é um tratamento de depressão muito mais seguro e confortável quando comparado ao que era há 80 anos, sendo que muitas melhorias foram feitas. Entre as décadas de 40 e 80, demorava muito mais para os pacientes se recuperarem após receberem a sessão de estimulação e eles permaneciam desorientados por várias horas após uma sessão de ECT.
Hoje, o procedimento é feito de forma diferente. A dose elétrica foi ajustada e administrada em pulsos breves, o que permite que os pacientes se recuperem muito mais rápido. A maioria dos pacientes é capaz de retomar as atividades diárias dentro de 1 hora após uma sessão moderna de ECT.
Uma sessão de ECT moderna em 7 etapas
No tratamento de ECT moderno, a anestesia geral é um dado adquirido, o que significa que os pacientes estão dormindo e sem dor durante todas as sessões. Os impulsos elétricos administrados ao cérebro são muito mais brandos do que em 1938 e a convulsão é breve e controlada.
Aqui está um guia passo a passo para uma sessão de ECT moderna:
- 1. Uma sessão de ECT é sempre administrada em um hospital ou clínica psiquiátrica por uma equipe de profissionais médicos, geralmente incluindo um psiquiatra, um anestesiologista e um profissional de enfermagem.
- 2. No início da sessão de ECT, o paciente deita-se em uma cama de hospital e recebe anestesia geral. Isso significa que o paciente está dormindo e sem dor durante todo o procedimento de ECT, que normalmente dura de 5 a 10 minutos.
- 3. O paciente recebe um relaxante muscular para evitar que o corpo se mova durante a sessão de ECT.
- 4. A equipe médica coloca eletrodos na cabeça do paciente. Os eletrodos são mais comumente colocados para direcionar o córtex temporal do cérebro. Às vezes, eles são colocados em ambos os lados da cabeça (ECT bilateral) e em outros casos são posicionados apenas no lado direito da cabeça (ECT unilateral direita). Colocar eletrodos em apenas um lado da cabeça está associado a efeitos colaterais mais brandos.
- 5. Quando o paciente está dormindo e os músculos relaxados, o médico pressiona um botão na máquina de ECT e uma corrente de cerca de 500-900 miliamperes é fornecida através dos eletrodos ao cérebro por um período de 1-6 segundos. Isso cria uma convulsão controlada que normalmente dura menos de 60 segundos (o paciente não tem conhecimento da convulsão).
- 6. Poucos minutos depois, o efeito do anestésico e do relaxante muscular começa a desaparecer e o paciente é encaminhado para uma sala de recuperação. Ao acordar, o paciente pode sentir confusão por alguns minutos a algumas horas. A maioria dos pacientes pode continuar com as atividades diárias dentro de uma hora após a sessão de ECT.
- 7. Alguns pacientes notam uma melhora em seus sintomas depressivos após apenas uma sessão de ECT e outros precisam de tratamento por semanas antes de notar qualquer efeito. Os pacientes geralmente passam por 2 a 3 sessões de ECT por semana durante 3 a 4 semanas.
O que acontece após o tratamento com ECT?
O tratamento geralmente consiste em 6-12 sessões de estimulação eletroconvulsiva (ECT). Depois de concluir essas sessões, é importante não parar com o tratamento contínuo da depressão para, assim, prevenir recaídas. Isso pode significar sessões menos frequentes de ECT, medicação antidepressiva e / ou psicoterapia.
A próxima seção contará mais sobre as possíveis consequências negativas da ECT e o porquê o tratamento geralmente só é usado na depressão grave e na depressão resistente ao tratamento.
A desvantagem da ECT
Efeitos colaterais
Por causa de seus efeitos colaterais, a ECT é mais comumente usada em casos graves de depressão ou na depressão resistente ao tratamento (quando um paciente deprimido já tentou outros tratamentos sem resultados).
A ECT também pode ser usada quando um paciente deprimido precisa de alívio dos sintomas mais rapidamente do que o normal por exemplo, se o paciente apresenta alto risco de suicídio. A maioria dos pacientes relata que os benefícios da ECT superam os problemas, mas é muito importante estar ciente dos possíveis efeitos colaterais antes de tomar sua decisão sobre o tratamento com esse tipo de terapia.
Aqui está uma lista dos efeitos colaterais mais comuns:
- Desorientação (geralmente dura entre alguns minutos a algumas horas após uma sessão de ECT);
- Dor, fadiga e náusea são outros efeitos colaterais a curto prazo da ECT.
Além disso, os pacientes relatam perda de memória, que é o maior problema da ECT e um efeito colateral comum. Algumas pessoas perdem a memória de eventos ocorridos meses antes de fazerem o tratamento e outras ficam com lacunas permanentes na memória. A maioria dos pacientes deprimidos afirma que valeu a pena perder algumas lembranças com o tratamento com ECT, mas outros relatam que perderam lembranças preciosas. Por exemplo, a lembrança de uma viagem em família ou mesmo do dia do casamento.
A perda de memória geralmente é pior logo após o tratamento com ECT e, em seguida, melhora gradualmente com o tempo. Uma minoria de pacientes de ECT relata problemas de memória que permanecem por meses ou anos. Infelizmente, atualmente não há como saber quem será afetado por problemas de memória, o que significa que a perda de memória é um risco para todos que decidem fazer o tratamento de ECT.
Vale a pena notar que as dificuldades de concentração e de memória são um sintoma comum de depressão severa. Em alguns casos em que o tratamento com ECT foi bem-sucedido e esses sintomas desapareceram, os pacientes realmente perceberam que a terapia eletroconvulsiva melhorou suas funções de memória.
Dificuldade em formar novas memórias é outro efeito colateral da ECT. E o paciente acaba por ter dificuldade em criar novas memórias. Este efeito colateral é temporário e geralmente desaparece algumas semanas após o tratamento com ECT.
A ECT vale a pena?
– A eficácia da ECT
Pesquisadores e profissionais de saúde observaram os benefícios da terapia eletroconvulsiva para mudar e salvar vidas por décadas. E alguns deles descrevem a ECT moderna como a maneira mais rápida e eficaz para os pacientes se recuperarem completamente da depressão.
“As evidências que indicam que a ECT é eficaz no tratamento de transtornos do humor são diversas, antigas e incontestáveis. Tanto no curto quanto no longo prazo, parece exercer maior benefício do que as alternativas farmacológicas.” Harold A. Sackeim, PhD 2017.
Diferentes estudos relatam resultados diferentes no que diz respeito à eficácia da ECT para a depressão. No entanto, a maioria dos pesquisadores de ECT parece concordar que o tratamento é uma das maneiras mais rápidas e eficazes de eliminar sintomas depressivos graves. Cerca da metade dos pacientes deprimidos se recuperam totalmente com o tratamento e muitos outros são ajudados por ele.
Em 2012, uma revisão de literatura, incluindo 1.106 pacientes com depressão ou transtorno bipolar, mostrou que 51% dos pacientes deprimidos e 53% dos pacientes com transtorno bipolar se recuperaram completamente após o tratamento com ECT. Outro estudo descobriu que 75% dos pacientes deprimidos se recuperaram totalmente com o tratamento com ECT. E que mais da metade deles notou uma redução dos sintomas após apenas uma semana.
Em conclusão, a ECT é um tratamento eficaz para a depressão e o procedimento passou por mudanças consideráveis desde que apareceu pela primeira vez em 1938. O maior problema com a ECT é o risco de perda permanente ou temporária das memórias de eventos passados. Se você está sofrendo de depressão grave ou depressão resistente ao tratamento, certifique-se de discutir os riscos e benefícios com seu médico antes de tomar uma decisão sobre o tratamento.
Existem outras formas de estimulação cerebral?
– Apresentando ETCC
Se você não tem sintomas depressivos graves ou depressão resistente ao tratamento, existem formas mais suaves de estimulação cerebral com efeitos colaterais consideravelmente mais brandos do que o tratamento com ECT.
A Estimulação Transcraniana por Corrente Contínua (ETCC) é uma técnica de estimulação cerebral cada vez mais popular, e que você pode comprar online e usar em casa para tratar sintomas depressivos. A corrente ETCC (0,5-2 mA) é 400 vezes mais fraca do que a corrente usada na ECT e causa menos efeitos colaterais graves do que a medicação antidepressiva.
Estes são os efeitos colaterais que você pode esperar da ETCC:
- Sensações de picadas leves sob os eletrodos;
- Vermelhidão da pele temporária (na testa onde os eletrodos são colocados);
- Dores de cabeça leves que passam após 30 minutos.
Como funciona o tDCS/ETCC?
A tDCS ou ETCC fornece uma corrente elétrica suave através de dois eletrodos colocados no couro cabeludo. Para tratar a depressão, os eletrodos são colocados no alto da testa para atingir uma área do cérebro chamada córtex pré-frontal dorsolateral (DLPFC).
A atividade diminuída no DLPFC está associada a sintomas depressivos, como: fadiga, problemas de sono, dificuldades de concentração e alterações no apetite. A corrente elétrica estimula a atividade cerebral na região e, assim, alivia os sintomas depressivos.
Uma sessão de ETCC geralmente dura 30 minutos e pode ser administrada em casa através de um Headset de neuroestimulação. O protocolo recomendado para depressão inclui 5 sessões de estimulação por semana durante as primeiras duas semanas. E, depois disso, 2 sessões por semana pelo tempo que você precisar. A maioria das pessoas nota uma redução dos sintomas depressivos em 3-4 semanas.
A ETCC pode curar a depressão?
A ETCC não requer anestesia ou visitas regulares a uma clínica psiquiátrica e é obviamente uma opção de tratamento muito mais conveniente do que a terapia eletroconvulsiva. Mas quão eficaz é? A ETCC pode curar a depressão? Acontece que pode. Em 2019, o pesquisador de doutorado Julian Mutz e colegas compararam diferentes formas de estimulação cerebral para a depressão. Os pesquisadores concluíram que a ETCC foi um tratamento eficaz para a depressão, sendo uma opção menos cara do que TMS, ECT ou mesmo psicoterapia.
“…Descobrimos que o tDCS é eficaz em todos os resultados nas metanálises de pares e de rede. Dado que a ETCC tende a ser um tratamento menos caro do que a estimulação magnética transcraniana, ECT ou psicoterapia. Esta descoberta é particularmente relevante para os formadores de políticas que podem considerar a ETCC como uma terapia clínica fora do ambiente de pesquisa.” Mutz et. al, 2019.
Leia mais sobre as evidências científicas por trás do ETCC aqui.
Onde posso obter a ETCC?
Você pode comprar um Headset ETCC online e usá-lo em casa para tratar a depressão. A Flow Neuroscience desenvolveu o primeiro dispositivo ETCC com marcação CE e aprovado clinicamente para uso doméstico. Além de, agora, ter a certificação pela ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
Aqui está um guia rápido para obter seu próprio dispositivo ETCC:
- 1. Encomende o Headset Flow na loja online;
- 2. Baixe o aplicativo gratuito de depressão;
- 3. Em alguns dias, seu Headset será entregue. Quando ele chegar, desempacote seu aparelho e inicie o aplicativo;
- 4. O aplicativo mostrará como colocar o Headset e como iniciar a estimulação. Basta seguir as instruções;
- 5. Você receberá cinco sessões de estimulação de 30 minutos por semana, durante as primeiras três semanas. Depois disso, haverá uma ou duas sessões por semana pelo tempo que você quiser.
Se você quiser saber mais sobre como usar o dispositivo Flow ETCC/tDCS, assista a um vídeo do próprio fabricante. Clique aqui. Lembrando que o vídeo está em inglês mas você pode acionar as legendas em português para acompanhar o conteúdo. Basta clicar no botão “legendas/legendas ocultas” que aparece no canto inferior do vídeo e ativar o sistema de legendas.
Em conclusão, a Estimulação Transcraniana por Corrente Contínua (ETCC) é um tratamento eficaz para a depressão e causa menos efeitos colaterais e mais leves do que a medicação antidepressiva ou ECT. Embora essa última seja mais eficaz, especialmente no tratamento de sintomas depressivos graves, a ETCC é mais segura e muito mais conveniente.
Este artigo foi traduzido, para ver a versão original clique aqui.
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